Alguém que assina de cruz em tudo o que é importante na vida. Alguém que cumpre o seu dever. Com rigor. Aparentemente sem questionamento. Aparentemente autista. Em tudo o resto, não é claro o mesmo desengajamento moral. Emociona-se. Sente prazer. Apressada. Assente que ama, se lhe perguntam. Não sabe que é monstro. Não sabe que é bela. Quando se aprende a ler e a escrever porventura tarde demais, talvez a pergunta certa seja menos “Quem a pode perdoar?” e mais “Quem a pode condenar?”. Fazemos nossas as palavras dos outros, parecemos boas pessoas quando usamos frases feitas num mundo que em tudo parece próximo do que devia ser. Civilizado. Protector. Provedor. Num mundo diferente, é preciso mais coragem. Para falar. Para ouvir. Para calar. Para o bem e para o mal. Para vitimar e ser vítima. Para asfixiar a culpa e o silêncio. Para continuar a viver expulsando demónios e segredos. Não somos todos palavras. Não somos todos analfabetos. Mas dificilmente se fica indiferente à humanidade dos dois lados da barricada.
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